sábado, 21 de julho de 2012

Breve memória do Liceu (Biu Ramos)



       Sempre gostei de lembrar que duas grandes emoções me marcaram nessa já longa jornada que me levou a percorrer caminhos íngremes e estradas luminosas, pontilhada de abismos e ascensões, mais ascensões do que abismos. A primeira foi quando subi as escadarias do Liceu Paraibano, para iniciar o curso ginasial, munido de uma credencial poderosa, que foi minha aprovação num rigoroso exame de seleção, equivalente sem exagero a uma prova de vestibular dos dias de hoje.
Biu Ramos em momento de autógrafo na Livraria do Luiz (foto Marcos Russo/A União)     

 Tinha deixado a Escola Industrial de João Pessoa, atualmente Instituto Federal de Ensino Tecnológico, por absoluta falta de opção por um curso compatível com a minha vocação, minhas aptidões e os meus desejos. Da Escola, fui para o Ginásio Solon de Lucena, onde demorei pouco,  porque não tinha como pagar as mensalidades. A única solução era ingressar no Liceu, que oferecia  ensino gratuito e da melhor qualidade, e exibia um quadro de professores altamente qualificados, todos eles absorvidos pela Universidade da Paraíba, desde a sua criação. O Liceu, em si, já era uma universidade. Isso nos idos de 1956.
      Desses tempos, guardo recordações desvanecedoras, de colegas com quem convivi e da intensa militância na política estudantil, que, de certo modo, me fez abandonar os estudos em conseqüência  de um congresso promovido pela União Brasileira dos Estudantes Secundários, quando fui eleito secretário-geral da entidade, obrigando-me a permanecer no Rio de Janeiro durante dois anos consecutivos. Um dos principais líderes estudantis da época era  Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, que também estudava no Liceu e já deixava aflorar a sua  incoercível vocação de liderança, elegendo-se presidente da Associação dos Estudantes Secundários da Paraíba - AESP – tendo como companheiros de diretoria, entre outros, José Martinho Lisboa, hoje desembargador aposentado, que foi quem presidiu a nossa delegação ao Congresso da UBES, destacando-se pela habilidade e discernimento
      Depois de cumprido o mandato, retornei a João Pessoa, mas com a determinação de me firmar no jornalismo, procurando concretizar uma vocação nata, à qual consagraria toda a minha vida, desde que ingressei como foca no Correio da Paraíba, nos idos de 1954.
      Com o tempo, a minha memória do Liceu foi se desvanecendo, em virtude da passagem fugaz pelas suas salas, que durou menos de dois anos, e pela gama de episódios e acontecimentos que foram se acumulando ao longo de minha trepidante trajetória pelas redações de todos os jornais, estações de rádio e emissoras de TV de João Pessoa. Personagens que nunca se diluíram de minhas lembranças, foram  Daura Santiago Rangel, que não me fez perder o medo – verdadeiro pânico – da matemática,  mas me marcou como uma  educadora excepcional, e uma mulher de raras qualidades morais e espirituais. A simples convivência com ela em sala de aula, teve grande influencia na formação do meu caráter.
      Outros nomes que ficaram foram os de Gibson Maul de Andrade, seu diretor numa crise episódica, mas que não possuía maturidade, experiência e humildade para o exercício do difícil mister. José Maria Gomes, que eu já conhecia do Solon de Lucena, e que veio a ser um dos diretores mais eficientes do Liceu Paraibano, pelo seu caráter e rigor de suas atitudes e decisões. Ocorre-me também os nomes dos professores Manuel Cavalcanti, Milton Delone, com suas gravatas extravagantes, e de Dilermano Luna, uma das inteligências mais cintilantes com quem convivi, tanto no Liceu como nas rodas intelectuais de João Pessoa, onde pontificava como um raro exemplo de erudição e sólida formação acadêmica.
                                    ***
      A outra grande emoção de minha vida foi quando adentrei, pela primeira vez, os salões majestosos do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, em companhia de Celso Furtado, então ministro da Cultura de José Sarney. Eu era secretário da Cultura do governo de Tarcísio Burity, em 1986, e fui acompanhar a assinatura de um convenio com o governo espanhol para a restauração do Centro Histórico de João Pessoa.  Coisa que pouca gente sabe ou, se sabe, faz questão de não lembrar.
      Mas isto é outra história.
      O importante é que emoções eu vivi.
        

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O Liceu Paraibano no Túnel do Tempo(1951/57) Por José Octávio de Arruda Mello




José Octávio de Arruda Mello, historiador de ofício, integrante dos IHGP e APL, colaborador de A União, editor de Revista do UNIPÊ. Autor de História da Paraíba – Lutas e Resistência (2ª impressão da 10ª ed.,2007).

         Visto à distância, o Liceu Paraibano, onde estudei, cursando os ginásio e clássico, de 1951 a 57, assemelha-se a um túnel – o túnel do tempo.
         Atravessando-o, nele ingressei guri, aprovado em disputado exame de admissão, e saí homem feito ou quase isso, sete anos depois. Esse conduto foi também o da cidade, que se deslocou do centro para a praia, pela porta do Jardim Miramar, instalado entre 1949 e 50, e da sociedade pessoense, que transitou do patriarcalismo das elites agrárias para a classe média dos estamentos urbanos.
foto de o norte.com         

Várias entidades, como os institutos de previdência, dominantes no período, colocaram-se a serviço dessa transição e o Liceu – rebatizado Colégio Estadual de João Pessoa, devido a seu homônimo de Campina Grande, em 1953 – foi uma delas.
         Não era, como se tem propalado, estabelecimento de pobres, mas de classe média – média-média, e, sobretudo, média-baixa. O povão dos bairros desasnava nos grupos escolares e ficava por aí mesmo. Já as elites patrimoniais valiam-se do Diocesano Pio X – que rivalizava com o Liceu nos desfiles escolares e jogos estudantis – e Colégios Lurdinas e Nossa Senhora das Neves, estes reservados às moças.
         O excelente livro de Jean Blondel – As Condições da Vida Política do Estado da Paraíba (1957,94) – delineia a cidade de João Pessoa e Estado da Paraíba da época, sendo este de natureza algodoeiro-pecuária e açucareira. Os bairros da prmeira compreendiam o Centro – Varadouro(Comércio), Tambiá, Trincheiras, Montepio, Roggers e Cordão Encarnado – Jaguaribe, Torre/Santa Júlia, e os arrabaldes da Ilha do Bispo, Varjão, Cruz das Armas, Oitizeiro e Mandacaru. Os distritos intitulavam-se Gramame, Vila do Conde, Alhandra, Pitimbú, Acaú e Cabedelo a que se incorporava a aglomeração de Tambaú.
         Tanto quanto me marece, o grosso do alunado do Liceu provinha da rua da República e adjacências do Varadouro, Roggers, Jaguaribe e entrada da Torre. Isso nos turnos da manhã, onde estudavam os mais jovens, e tarde, reservada às moças. A composição social da noite mudava porque, como os Pio X e Lurdinas retardaram o colegial, as classes média-média e média alta valiam-se do Liceu. A saída deste convertia-se em verdadeiro espetáculo, principalmente à tardinha, animando o footing da Lagoa.
         Como pelo início dos anos cinqüenta, a cidade só dispunha de uma escola de ensino superior – a Faculdade de Ciências Econômicas que prolongava a antiga Academia de Comércio – o corpo docente do Liceu – anos depois recrutado pela Universidade – era de primeira ordem. Para tanto contribuía seu reduzido número – o Liceu não era colégio de massas –  e os vencimentos, equivalentes a promotor de terceira entrância.
         Tem-se ressaltado a qualidade dos docentes, o que era um fato, mas a identificação dos programas com a realidade era pequena. Tal se devia à estria clerical dos mestres escolas,  o que José Rafael de Menezes situou com exatidão em História do Lyceu Paraibano(1983). Vinculados à chamada Igreja tridentina, esses professores seguiam os antigos padrões de ensino – tradicionalistas e luso-coimbrãos – com forte  acento lusitano, em literatura, europeista em Geografia e História e classicistas em línguas estrangeiras.
         Quando do suicídio de Vargas, em 1954, o lente de Latim cimentou que tínhamos sorte  porque a prova estava adiada. Esse não foi o caso da turma vizinha onde o professor de História – famoso pelas aberturas de espírito – pôs-se a explicar a tragédia.
         Tal nos remete à dicotomia existente na docência entre clericalistas e livres-pensadores, geralmente liberal-maçônicos. A distinção deve ser encarada com cuidado porque o mais maçônico, de Canto Orfeônico, era profundamente reacionário. Ainda assim, enquanto a ala clerical alinhava bom número de padres e solteironas vinculadas à Igreja, os liderais-maçônicos pontificavam com Aníbal Moura, Aurélio  Albuquerque, Francisco Pacote, Manoel Coutinho, Afonso Pereira, Severino Pimentel, Diógenes Setti Sobreira, Oswaldo Miranda, e, principalmente Olívio Pinto, esquerdizante. Estes eram os de minha predileção.
         O choque entre os dois grupos sobreveio em 1953, no enquadramento procedido pelo Governo José Américo. Com o ultramontanismo em declínio, seus oponentes predominaram nas listas, o que levou nossa professora de Francês – ex-noviça, casada com ex-seminarista – a protestar, ruidosamente, em classe.
         Entrosado com os treze cinemas da cidade, clubes (Cabo Branco, Astréa, Voluntárias, AABB), campeonatos de futebol do campo do Cabo Branco e programas de auditório da Rádio Tabajara, o Liceu assemelhava-se a um centro cultural. Essa a razão por que seu auditório, dotado de púlpito e piano de cauda, abrigava peças de teatro, sessões de música, orfeões, concursos de oratória e conferências. Destas, as mais famosas foram as proferidas por Carlos Lacerda, em 1951, Joracy Camargo, em 1953, e Tristão de Athayde, em 1955. Quando desta última, eu já cursava o primeiro clássico mas nossos professores não nos orientaram a comparecer. Como resultado, nunca conheci, pessoalmente, ao doutor Alceu.
         Tanto quanto a sirene da fábrica Matarazzo, na Ilha do Bispo, o relógio do Liceu roteirizava a vida da cidade. Ele também marcava nossas aulas, das sete às onze e quarenta pela manhã, treze às dezessete e quarenta e cinco, à tarde, e das dezoito e vinte às vinte e duas e dez, pela noite. As da manhã e tarde tinham duração de cinqüenta minutos, mas as da noite só quarenta. Internamente nos regíamos por um sino, tocado com precisão britânica. Ele ficava junto ao babinete do dentista que se chamava dr. Álvaro, mas nunca aprendi seu sobrenome. Como trazia na bata as iniciais A.O., a gente o taxava de Amigo da Onça, personagem humorístico do chargista Péricles, da revista O Cruzeiro.
         Sem ainda os prédios do Instituto de Educação(1955) e Faculdade de Filosofia(1956), a praça de esportes era enorme e albergava sessões de ginástica, competições de atletismo e jogos de futebol, vôlei e basquete, além da habitual pelada, disputada com bola de borracha ou macaíba. A educação física tinha feição conservadora e buscava a eugenia da raça, no esquema do Estado Novo de Vargas. Nosso acesso a suas sessões era assegurado através dos exames biométricos realizados pelo médico Giacomo Zaccara, integralista, fomentador do esporte operário e colegial. O exame limitava-se à batida de um martelinho no joelho de cada aluno.
         Entrosado com a comunidade, o Liceu abrigava outros serviços côo o FISI, que assegurava leite gratuito, às nove horas da manhã, no esquema da UNICEF, e o laboratório de meteorologia que funcionava na parte superior do edifício. Diariamente, o diretor Orlando Vasconcelos ia lá testar os aparelhos. Ainda alcancei a farda completa de cáqui, palito e gravata, costurada pela Alfaiataria Grisi, mas esse modelo foi extinto em 1953 para predominância dos eslaques, bem mais baratos. O governador José Américo responsabilizou-se pela mudança.
         A politização era débil. Apesar dos esforços de líderes como o atual prefeito de Santa Rita Marcos Odilon Ribeiro Coutinho, egresso da Escola Comercial Underwood, de dona Osmarina Carvalho, as entidades classistas revelavam atuação específica. Tanto a Vanguarda Estudantil da Paraíba (VEP), de Márcio Airton, como a União Estadual dos Estudantes da Paraíba (UEPB), dos irmãos Rabay, incentivavam os chamados esportes de salão – ping-pong, botão e xadrez – e apresentavam reivindicações corporativas ligadas a abatimentos nos transportes coletivos, cinema e circos, estes com espetáculos regulares na Lagoa.
         Os estudantes do Liceu valiam-se muito da Biblioteca Pública, com estoque de livros bem melhor que a do colégio. Isso também se verificava, em face da proximidade da Biblioteca da General Osório da Casa do Estudante que, localizada na rua da Areia, acolhia os estudantes do interior.  A quase totalidade estudava no Liceu. De 1955 em diante, eles organizaram a Festa da Mocidade, na patê da Lagoa, oposta ao cassino.  Lá se exibiam artistas de fora e da terra, como o mulato Zacarias, o Zaca, cantador de emboladas.
         O apoliticismo estudantil favorecia a direita que chegou a dispor de base de massas no Liceu. Eram os aguais-brancas do integralismo tupiniquim cuja bandeira exaltava nacionalismo tipo verdeamarelista. Posteriormente,  acompanhando o plano nacional, esse verdeamarelismo guinaria para a esquerda, mas, aí, já nos encontrávamos nos anos sessenta.
         Estudar no Liceu dos anos cinqüenta assegurava status  e as estrelas do curso colegial, bem como as fitas do ginásio, eram ostentadas com orgulho. Essa a razão pela qual as principais manifestações cívicas e religiosas do período contavam sempre com contingentes do estabelecimento da avenida Getúlio Vargas.

domingo, 15 de julho de 2012

Liceu Paraibano – Alunos e Mestres Notáveis, Ontem e Hoje


Por: Josélio Carneiro

Liceu Paraibano – Alunos e Mestres Notáveis.  A mais tradicional escola pública da Paraíba completou 176 anos no dia 24 de março deste ano de 2012. Participe deste blog com opiniões, depoimentos, fotos, artigos, sugestões. Contato: liceuparaibano@gmail.com

Além de paraibanos, o que têm em comum Celso Furtado, Irineu Pinto, Elba Ramalho, Augusto dos Anjos, Antonio Mariz, João Pessoa, Lauro Pires Xavier, Linduarte Noronha, Flávio Tavares, Ascendino Leite, Humberto Lucena, Biu Ramos, Argemiro de Figueiredo, José Octávio de Arruda Mello, Martinho Moreira Franco, e tantas outras personalidades?  A resposta é a seguinte: todos eles estudaram no Liceu Paraibano, um dos mais antigos educandários do Brasil e a mais tradicional escola pública da Paraíba.

O Liceu hoje em foto de Josélio Carneiro



Eu, há alguns anos organizo o livro 'Liceu Paraibano – Alunos e Mestres Notáveis’, (em fase de revisão). A obra destaca a trajetória de diversos paraibanos, ex-alunos do Liceu que se tornaram pessoas públicas na política, na literatura, nas artes, alguns inclusive chegando a ocupar o cargo de governador da Paraíba.  Na sequência, algumas curiosidades sobre o Liceu, a partir da obra História do Lyceu Parahybano, de José Rafael de Menezes.

O orgulho de ser liceano

Não estudei no Liceu mas este trabalho jornalístico objetiva resgatar um pouco da história do Liceu e de alguma maneira contribuir com o despertar de gerações de jovens que estudaram e de gerações que estudam hoje na escola-símbolo da Rede Pública Estadual.
 Um despertar para um sentimento de orgulho do colégio que foi berço da cultura, do jornalismo, enfim, da intelectualidade paraibana. Matriz intelectual sim porque em debates, em conversas nos ambientes do Lyceu foram concebidos o centenário Jornal A União e o IHGP – Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba. Dentre tantas outras ações no âmbito da educação e cultura.

O Liceu

Vale situar o leitor sobre o perfil do Liceu. Reproduzimos aqui tópicos da obra de José Rafael de Menezes, “História do Lyceu Parahybano”, publicada em 1983. O autor já é falecido. Foi através do padre-mestre José Antonio da Silva Lopes, que o Conselho Geral da Província tomou conhecimento aos 19 de dezembro de 1832 de um projeto criando o Lyceu Parahybano. Uma dezena de padres-mestres foi responsável pela evolução administrativa da escola, que começou com o padre João do Rego Moura e perdurou até o Monsenhor Odilon Coutinho. A escola foi criada em plena Monarquia pela Lei nº11 de 24 de março de 1836, sancionada pelo vice-presidente da Província, Manoel Maria Carneiro da Cunha, a partir de decreto da Assembléia Provincial da Parahyba do Norte. De acordo com a obra do professor José Rafael de Menezes, vejamos o que diz o Art. 1º da Lei, com grafia da época:
“Fica criado nesta cidade um Lycêo, que será composto dos professores das cadeiras de Latim, Francez, Rhetorica, Philosophia, e primeiro anno de Mathematica, já creadas na mesma cidade, de dous substitutos, um para estas duas ultimas cadeiras, e outra para as tre primeiras, e finalmente de um porteiro. Define o mesmo decreto que “O Lycêo será collocado no 1º andar do edifício, em que presentemente se reúne a Assembléia Legislativa Provincial.

O prédio atual, no formato de um navio, localizado na avenida Getúlio Vargas, centro de João Pessoa, foi inaugurado em 1937 na gestão de um ex-aluno do Liceu, o campinense Argemiro de Figueiredo, que sentou nos bancos daquela conceituada escola nos idos de 1916. De 1836, ano de sua fundação, a 1936, portanto durante um século, o Liceu funcionou no antigo Convento de São Gonçalo (atual Faculdade de Direito), ao lado do Palácio da Redenção. Este mesmo prédio já abrigou no passado Tesouraria da Fazenda e a Assembleia Legislativa.

Hoje o Liceu Paraibano funciona com 18 salas de aula, nos três turnos e oferece 2.500 vagas a alunos do ensino médio, além de biblioteca, auditório, ginásio de esportes e laboratórios de informática, química, física e biologia.



Governadores
O jovem aluno ANTONIO Marques da Silva MARIZ, em foto na ficha de matrícula em 1953, na 1ª série do Científico, aos 16 anos de idade

Diversos ex-alunos do Liceu se tornaram governadores da Paraíba, dentre eles Ruy Carneiro, Antonio Mariz, Álvaro Lopes Machado, Ernani Sátyro, Wilson Braga e João Pessoa. No Império e na República Velha, praticamente todos os homens públicos na Paraíba marcaram presença no Liceu como alunos, professores ou diretores. Solon Barbosa de Lucena foi diretor mais de uma vez e em outra época governou o estado, a exemplo de Antonio Alfredo da Gama e Melo e Álvaro de Carvalho.


Visita de Dom Pedro II e do poeta Gonçalves Dias

Em 1852, o poeta maranhense Gonçalves Dias, por determinação do imperador Dom Pedro II, percorreu a região inspecionando escolas públicas. Na avaliação do inspetor imperial o Liceu Paraibano estava entre as três primeiras escolas da região, ao nível do Pará, Ceará e Maranhão, e superado pelos liceus da Bahia e de Pernambuco.  No ano de 1859 o Liceu (prédio da atual faculdade de Direito) recebeu a visita do Imperador Dom Pedro II, que passava pela Província. Ele esteve em Mamanguape e Pilar.

Fundação do IHGP

No ano de 1906 o ex-aluno Irineu Pinto, fundou, nas dependências do Liceu, junto com amigos, o Instituto Histórico e Geográphico Parahybano (IHGP). No governo Castro Pinto (1912-1915) os alunos fundaram a revista Liceum, publicação mensal que circulou por pouco tempo. Entre 1850 e 1929 a sociedade paraibana foi liceana, revela o autor do livro “História do Lyceu Parahybano”, Rafael de Menezes. A obra foi publicada em 1983 pela Editora da UFPB. “Por meio século, o Liceu foi a única instituição cultural capaz de reunir homens de estudos e líderes comunitários letrados, Província da Parahyba”, diz Rafael de Menezes, em seu livro.
Abaixo, um resumo da trajetória de três liceanos: o economista Celso Furtado, um dos paraibanos mais conceituados no mundo; o presidente João Pessoa e o poeta Augusto dos Anjos, escolhido como o paraibano do século.

Os 100 anos do Lyceu Parahybano

Aqui mais tópicos da obra de Rafael de Menezes. Entre 22 e 30 de março de 1936 houve modestas comemorações dos 100 anos do Lyceu. O Jornal A União publicou no dia 24 de março daquele ano o que disse o então diretor da escola Matheus de Oliveira, em ato comemorativo: “À margem da data tão cara aos que estimam e servem à Parahyba, rendemos neste momento, merecida homenagem aos docentes do Lyceu, que durante o largo período de cem annos illuminaram os espíritos de tantas gerações”.
Na mesma edição de A União o professor de Ciências Naturais, Oscar de Castro, afirmou ser a história do Lyceu “um século de civilização na Parahyba”. Mais tarde, nos anos 40, Oscar de Castro seria o líder intelectual das grandes iniciativas daquela década.


Lyceu conquista famílias estrangeiras

De 1930 a 1950 os estrangeiros que vieram morar na Parahyba matriculavam seus filhos no Lyceu. Alguns se tornavam professores de línguas e ciências como os Kauffman, os Von Sohsten. As famílias italianas Di Lascio, Zacarra, Maglianos, Gioya, e Grizzi, também se integraram à sociedade paraibana a partir da comunidade lyceana.
Os anos passam e nasce na década de 50 a Universidade Federal da Paraíba, com José Américo de Almeida, ele que assumiu a Reitoria na Faculdade de Filosofia que funcionava em dependência do Lyceu Parahybano, a matriz intelectual formadora de humanistas.

A seguir, uma síntese de três ex-alunos do Liceu, o economista Celso Furtado, o presidente João Pessoa e o poeta Augusto dos Anjos.

Celso Furtado

“No Liceu Paraibano havia um seminário de confrontação de idéias e recordo-me de que fiz uma conferência, citei Max Beer e outros escritores de esquerda. Os integralistas caíram em cima de mim com críticas acerbas”.  As declarações acima são do economista Celso Furtado publicada no ano 2000 na revista Celso aos 80, por ocasião do “Seminário Celso Furtado e o Pensamento Latino Americano”. O evento marcou os 80 anos do idealizador da Sudene. Vejamos outro depoimento do mestre Furtado: “O período que vai de 1930 a 1937, quando ingressei no mundo como pessoa pensante, foi extraordinariamente rico no Brasil, porque o país reencontrou-se com seus problemas”.

Nascido aos 26 de julho de 1920 na cidade de Pombal, Sertão paraibano, Celso Furtado iniciou os estudos secundários no Lyceu Parahybano em 1932, aos doze anos de idade. Foi contemporâneo, nos bancos do Liceu, do jovem Ascendino Leite. Celso Furtado concluiu os estudos em Recife, no Ginásio Pernambucano, porque naquela época não havia no Liceu o curso completo.

No Liceu o futuro criador da Sudene aprendeu inglês e francês. Na tradicional escola, o adolescente foi um dos líderes do movimento de esquerda. Segundo ele próprio, “líder puramente intelectual porque não tinha qualquer atividade política”. Consideramos ele o mais importante intelectual paraibano, na nossa modesta opinião, o cidadão do mundo é o Paraibano do Século XX.



Augusto dos anjos, aluno e professor


O poeta Augusto dos Anjos iniciou os estudos de humanidades no Lyceu Paraibano, em 1900, aos 16 anos de idade. Seus estudos iniciais foram em casa, no Engenho Pau-d’Arco, município de Cruz do Espírito Santo-Pb, e seu pai, Alexandre Rodrigues dos Anjos, foi seu professor. Os mestres ficaram impressionados com os conhecimentos do adolescente, porque, sem ter freqüentado a escola regular, sabia mais que os outros colegas.
  
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, nasceu aos 20 de abril de 1884. Sua mãe se chamava Córdula. Em 1901 publicou seus primeiros poemas no jornal O Comércio, e em A União. Seu ingresso na Faculdade de Direito do Recife ocorreu em 1903. No ano de 1907, já formado em Direito, Augusto dos Anjos dava aulas particulares de Português e isto garantiu sua sobrevivência por vários anos. A nomeação para o cargo de professor interino do Lyceu Paraibano se deu em 1908. Lecionou por apenas dois anos.  Em 1910, o poeta casou-se com a professora Ester Fialho. O casal teve os filhos Glória e Guilherme.
  
O poeta pediu ao então governador, João Machado, licença para ir ao Rio de Janeiro, sem perder o emprego de professor. A licença foi negada. Augusto dos Anjos resolve deixar o Lyceu e muda-se para o Rio de Janeiro. Na então capital federal ensinou na Escola Normal e em seguida no tradicional Colégio Pedro II. Seu único livro “EU”, foi publicado em 1912, com apenas 1.000 exemplares. A obra teve grande impacto na crítica.
No ano de 1914, em Leopoldina, Minas Gerais, Augusto dos Anjos é nomeado diretor do grupo escolar Ribeiro Junqueira. No dia 12 de novembro daquele ano morre vítima de pneumonia.
  
No ano 2000 A União publica a série Paraíba – Nomes do Século. A plaquete nº38, escrito pelo jornalista e poeta Linaldo Guedes, foi sobre a vida e obra de Augusto dos Anjos. Em 2001 Augusto dos Anjos foi eleito em votação popular, o Paraibano do Século. Hoje em dia dezenas de sites na rede mundial de computadores tratam sobre a poesia de nosso poeta maior, que foi aluno e professor do Lyceu.  

João Pessoa

João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque nasceu na cidade de Umbuzeiro, Cariri paraibano, em 24 de janeiro de 1878. Morreu em 26 de julho de 1930, no Recife, na Confeitaria Glória, assinado pelo advogado João Dantas. O futuro presidente da Paraíba, depois de sua terra natal também morou em Cabaceiras e Guarabira. Na companhia do tio Epitácio Pessoa, chegou ao Rio de Janeiro em 12 de novembro de 1889, três dias antes da Proclamação da República. Ao retornar à Paraíba fez seu curso de humanidades no Lyceu Paraibano.

No ano de 1894 alistou-se no 27º Batalhão de Infantaria, na capital paraibana. No ano seguinte ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro. Serviu em seguida no 4º Batalhão de Artilharia de Posição, em Belém do Pará. Com problemas de saúde, devido maus tratos na vida militar, foi excluído em 1898, por incapacidade física. Passou necessidades e finalmente, com a ajuda da família chegou a Cabedelo em um navio do Lóide. Formou-se em Direito no Recife em 1903. No ano de 1905 João Pessoa casou-se com Maria Luiza de Souza Leão Gonçalves.

Em 1907 fez viagem de quatro meses a dez países, entre eles: Inglaterra, França, Portugal, Alemanha, Holanda e Itália. Em 1909 vai morar no Rio de Janeiro.  Em 1913 se tornou auditor-geral da Marinha. No ano de 1919 assumiu interinamente o cargo de ministro do Supremo Tribunal Militar. De 1920 a 1928 foi ministro titular daquela alta Corte de justiça.

Em 1924, teve seu nome lembrado para o Governo da Paraíba. Não teve interesse e, junto com o tio Epitácio Pessoa, defendeu o nome de João Suassuna, que assumiu o Executivo Estadual. Por insistência de Epitácio, João Pessoa acabou aceitando a indicação e foi eleito presidente da Paraíba no dia 22 de junho de 1928.

Depois de chegar do Recife o corpo de João Pessoa foi velado na Catedral Metropolitana e no dia 1 de agosto foi embarcado no navio Rodrigues Alves com destino ao Rio de Janeiro, então capital da República, onde o presidente tinha residência fixa. O Governo da Paraíba construiu no jardim lateral do Palácio da Redenção, há alguns anos, o mausoléu que recebeu os restos mortais de João Pessoa.


Liceu Paraibano ontem e hoje

Olá pessoal, este blog objetiva interagir com a comunidade liceana da Paraíba. Quem estudou, estuda, foi professor, é professor do Liceu Paraibano, pode aqui participar com fotografias, depoimentos, artigos sobre sua passagem, sua experiência na mais tradicional escola pública de nosso estado. Berço da cultura e do jornalismo paraibanos o Liceu teve e tem grande significado na formação de milhares de pessoas.

Foto: Walter Rafael



A história dessa escola chama a atenção também de pessoas que não têm ligação direta com ela. Eu, não fui aluno, professor ou funcionário, mas, tenho pesquisado seu passado e acompanhado seu presente. 


Se você é personagem dessa história que já tem 175 anos, colabore com o blog. Nosso contato é: liceuparaibano@gmail.com. Participe e faça uma viagem no túnel do tempo da escola onde estudaram Celso Furtado, Augusto dos Anjos, João Pessoa e tantos outros paraibanos. Sejam bem vindos!